N.113 - PIEDOSOS,¹ MAS NEM TANTO

N.113 - PIEDOSOS,¹ MAS NEM TANTO
 

TEXTO BÍBLICO
Lucas 20.45-47
 

MEDITAÇÃO

“Segundo a maioria dos filósofos, Deus ao fazer o mundo, escravizou-o. Segundo o cristianismo, ao fazê-lo, Ele o libertou. Deus havia escrito, nem tanto um poema, mas mais uma peça; uma peça que Ele planejara como perfeita, a qual, porém, necessariamente havia sido deixada para atores humanos e diretores de cena, que desde então tem feito dela uma grande confusão.” CHESTERTON²

FARSA é um gênero teatral caracterizado por exageros, situações improváveis e personagens estereotipados³. Dela deriva a palavra farsante, i.e., aquele ou aquela que atua numa farsa. Emprestadas do teatro, portanto, farsa e farsante também passaram a denotar a falsidade praticada fora dos palcos, caracterizada pelo viver fingido, teatral, não condizente com a verdade. Esse era o caso dos mestres da lei denunciados por Jesus, no texto de Lucas.

Tratava-se de pessoas que se dedicavam com afinco na elaboração e construção de um alter ego religioso vincado por supostas perfeições e virtudes, embora fossem movidos, na verdade, por fome de poder que se alimentava da sujeição, medo e recursos do seu semelhante. Foram precursores da teologia da ostentação, onde aparecer parecendo piedoso é mais importante do que sê-lo, de fato. Não é tão difícil imaginar o que fariam e até onde iriam caso tivessem rádio, TV, Twitter, Youtube, Instagram, WhatsApp e sabe-se lá mais o quê à disposição...

Jesus denuncia farsantes e sua farsa: devoção desacompanhada da justiça e retidão que lhe são inerentes é uma anomalia. É teatro, fingimento, palco no qual o cristão verdadeiro não deve sequer pensar em “subir”, que dirá “atuar”. Piedade, afinal, implica justiça.

A desconexão alarmante entre o discurso e a vida dos mestres da Lei era evidente: além do exibicionismo religioso que, per se, oprimia e segregava as pessoas de forma medonha, aqueles homens potencializavam suas injustiças explorando gente que deveria ser pastoreada, provida e protegida por eles, caso fossem realmente piedosos*. Não há como fugir dessa equação: injustiça é implicação de impiedade. Como homens de fé, os mestres da lei pareciam grandes atores.

A verdadeira piedade frutifica em meio ao desfrute da liberdade que somente Deus pode conceder: liberdade da culpa pelo Seu perdão; liberdade da solidão pelo Seu acolhimento; liberdade do egoísmo por Seu amor; liberdade do medo por Sua graça; liberdade para obedecer pelo Seu poder; liberdade para ser você mesmo enquanto é continuamente transformado pelo Espírito; liberdade para servir o outro como expressão de gratidão e amor; liberdade para ser autêntico, sabedores de que onde abundou pecado, superabundou a graça.

LEIA TAMBÉM
Ex 22.21-24; Dt 10.18; Rm 1.18; Tg 1.27

PARA DISCUSSÃO EM GRUPO

• Você entendeu o que significa piedade?

• Suas posturas, atitudes, decisões, reações, etc estão sintonizadas com a boa confissão de fé em Jesus?

• Sua piedade tem sido evidenciada pela promoção da justiça em favor do seu próximo? Quem é o seu próximo?

SUGESTÃO DE ORAÇÃO
Vem em mim reinar, em tudo o que eu sou
Te convido já a governar a minha vida
Que meus atos e palavras possam demonstrar amor
Que haja sempre em minha boca, um contínuo louvor em gratidão
Por tua vida em minha vida!
TUA VIDA EM MINHA VIDA
VPC • Lieza Coelho

¹PIEDADE (s.f.) - virtude associada à adoração e obediência sinceras e reverentes a Deus.
²Ortodoxia, p.96
³Exemplo: A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, dramaturgo português, autor do Auto da Barca do Inferno.
*Na Lei, os cuidados com o órfão, a viúva, o estrangeiro e o pobre eram prescrições associadas à devoção obediente a Deus.